quinta-feira, 28 de junho de 2007

Titina e Val (Continuação)

- Ok, Titina Lisboa. Depois a gente conversa sobre isso. Agora, a senhora vai mudar de roupa e nós vamos para a noite...

- Não, Val... nem pense nisso... tenho que escrever mais um conto prá entregar prá editora amanhã. Sem condições de sair hoje.
- Titina, você não pode ficar enfurnada dentro de casa. Quanto tempo faz que a gente não sai juntas?
- Ah... não sei...
- Não... você não sabe. Porque faz muito tempo.
- Mas, eu tenho que trabalhar, né? Como é que você acha que eu pago o aluguel desse apartamento?
- Eu não saio daqui sem você, hoje. Juro que não saio.
- Cê vai passar a noite aí, hein?
- Você não teria coragem de estragar a minha noite, assim, querida. Eu lhe conheço.
- Olha, o que eu posso fazer por você, é o seguinte: Você fica aí no sofá, enquanto eu tento escrever meu conto. Assim que eu terminar, se tiver disposição, eu saio com você.
- Se tiver disposição, não, meu bem. Você vai sair.
- Tem certeza que você não prefere ser entrevistada pela Gabi?
- Essa noite, não. Vamos... comece logo!
- Ok... vamos ver se sai algo... eu nunca consigo escrever com gente por perto, mas...

Colocou o papel na máquina. Valentina torceu o nariz e jogou os olhos prá cima, quase tendo um espasmo quando viu a amiga voltando à maquina de escrever. Tinha horror a tudo o que era antigo. Já tinha, até, escondido a máquina de Titina, mas, ela dizia que não conseguia escrever sem ela.

"Sílvio bateu à porta e ficou esperando que Júlio viesse atender. André a abriu. Mandou-o passar, mas e o Júlio, onde está?, ele disse que você estaria fora, hoje. É verdade, não deveria, estar, mesmo, mas, estou. Ele teve que trocar o turno no hospital e eu não precisei ir traballhar. Sentou-se. André sentou-se no sofá ao lado. E porque ele não me avisou que ía trabalhar?, ele sabia que eu ía ficar em casa. E não teve tempo de lhe ligar. Eu disse que podia ir tranqüilo, que eu ligava prá você. E não ligou. Não.
"Levantou-se e foi à geladeira. Voltou com duas cervejas. Sílvio quis recusar, mas André insistiu. Eu não tinha nada prá fazer, hoje. Pensei que você pudesse me fazer companhia. Já ía ficar aqui com o Júlio, mesmo. Ficar aqui com o Júlio é um coisa. Ficar aqui, com você, é outra. Por que? Por que... essa é uma ótima pergunta. E eu tenho certeza que você me daria diversas respostas para ela. Queria as suas. Eu não mordo, tenho certeza. Você continua péssimo de sarcasmo, André. É isso que eu acho mais chato em você, sabia? Você é previsível. Previsível, mas, você não resiste a mim, fala a verdade. Deu uma risada e foi acompanhado pelo outro.
"O André? Não faz nada sem segundas inteções. Pode anotar o que eu tou lhe dizendo, Sílvio. Aguarde só mais um pouco e você vai me dar razão. Era a voz de um amigo em comum soando nos ouvidos de Sílvio. Posso ir ao banheiro? Claro, Sílvio, cê tá em casa, rapaz. Saiu. A cabeça estava fervendo. Não esperava encontrar André no lugar de Júlio. E queria ir embora, mas, não queria deixar claro que estava abalado. Saiu do banheiro e encontrou o outro na porta do quarto. Sem camisa e com as latas de cerveja nas mãos. O corpo modelado virou alvo das atenções de Sílvio. Não que fosse preciso muito para isso.
"Vamos assistir um filme? Separei um aqui. 'Quem tem medo de Virginia Woolf', você gosta dela, né? Ela é daquelas feministas, né? Eu não gosto muito delas. Na verdade, o filme não tem muito a ver com Virginia Woolf, mas, ok. Por que estava aceitando o convite? Seria tão mais simples dizer que ía embora. Mas, sentir-se desejado, ainda mais por André, era excitante demais para Sílvio querer resistir agora. Foram para o quarto de deitaram-se, lado-a-lado, na cama depois que o filme começou a rodar.
"Menos de cinco minutos de filme foram necessários para que o calção de André começasse a ser retirado. Sílvio não precisou olhar de lado para perceber isso. Menos tempo, ainda, foi necessário para sentir o corpo do outro sobre o seu. E beijava-lhe a boca da forma mais invasiva que já havia sentido. Sentia a língua lhe explorando a boca na mesma medida em que as mãos misturavam-se ao seu corpo. A respiração faltava e ele achava que não agüentaria. Reuniu forças, deus, de onde tirou tantas?, e colocou-se por cima. Beijava com mais calma, prolongando o momento. Afastava a boca e voltava a juntá-las. Em um instante, estava sussurando-lhe: Deixa eu lhe dizer uma coisa? Sem condições de lhe negar nada, André assentiu com a cabeça, enquanto continuava, com as mãos, a acariciar o corpo tão próximo. Você tá longe de ser irresistível.
"Levantou e deixou o outro sem ação. Foi à cozinha e pegou outra cerveja. Avisa ao Júlio que eu não pude ficar prá esperar com ele, mas, que me diverti muito com você, aqui, tá? Beijo prá você também.
"Bateu a porta sem se importar com o cenário que tinha deixado para trás. Tinha a impressão que, possivelmente, iria se arrepender do que tinha acabado de fazer, mas, estava feito."
Titina Lisboa

Já havia mais de uma hora desde que Titina começou a escrever. No sofá, Valentina estava dormindo e isso alegrou Titina. Uma noite de sono era tudo o que ela precisava, agora. Amanhã, o encontro com a editora e, depois, a entrevista da famosíssima estilista Valentina Dietrich com a Marília Gabriela e estava tudo acertado.
Agora, sono. Nem mais, nem menos.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Edição Especial de Nascimento!

Milhares de vivas para Maria Luíse Cabral Aguiar!

Eu tou chorando, aqui... não consigo escrever nada!

As Coisas Tão Mais Lindas
Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem - vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nela, então eu me vi
Está em cima com o céu e o luar
Hora dos dias, semanas, meses, anos, décadas
E séculos, milênios que vão passar
Água- marinha põe estrelas no mar
Praias, baías, braços, cabos, mares, golfos
E penínsulas e oceanos que não vão secar
E as coisas lindas são mais lindas
Quando você está
Hoje você está
Onde você está
As coisas são mais lindas
Por que você está
Onde você está
Hoje você está
Nas coisas tão mais lindas

Agora eu entendo porque essa música sempre foi a minha! Era, desde sempre a música da Luquinha linda do tio!

Beijos e abraços a todos que torceram por nós. A todos que apoiaram e vibraram com essa gravidez e com esse nascimento.
Hoje eu vou dormir o homem mais feliz do mundo!
Tenho a família mais maravilhosa que alguém poderia querer!
Tenho os amigos-irmãos (os de perto e os de longe) mais perfeitos que alguém poderia querer!
Tenho a sobrinha que esperei nos últimos 8 meses (ela se apressou um pouquinho - hehehehe)!

Um boa noite mais que especial do homem mais feliz desse mundo!

terça-feira, 12 de junho de 2007

Dia dos Namorados

E não é porque eu não tenho que vou brigar com quem tem, né?

Felicidades para todos e celebremos com Drummond:


As sem Razões do Amor
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


P.S.: Acho que, ainda hoje, Titina Lisboa volta a dar as caras por aqui.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

SEM NOME II

"Eram duas horas da madrugada e ela levantou-se. Bebeu um copo d'água, dirigiu-se à varanda e, de lá, observava os poucos carros que passavam. Tentava descobrir de onde eles vinham e para onde eles iriam. Por que essas pessoas estariam acordadas e fora de casa, agora? Bom, eu também estou acordada, pensou, mas, é diferente..."
Quem escreveria algo tão ruim, reclamou Titina, enquanto amassava a folha que tirara da máquina de escrever. Nunca tive uma crise desse tamanho... o que é isso? Desde o começo desse ano eu sempre escrevi sobre tudo o que quis. Todas as manhãs. E agora não sai nada? Não é possível. Só pode ser coisa daquele filho da mãe. Urucubaca das grandes. Ela elogiava tanto o que eu escrevia. Agora não quer mais que eu escreva. Só pode.
Enquanto pensava, Titina levantou da cadeira para procurar algo para comer. Os pés doeram quando pisou o chão frio. Abriu a geladeira e desistiu de comer. Foi ao escorredor de louça, pegou uma xícara e preparou um café ("bem forte, para não dormir antes de escrever algo"). Foi ao quarto e deixou a água no fogo. Calçou meias e pegou o telefone.
- Val, Titina...
- Oi, meu amor. Estava precisando mesmo falar com você. Meu bem... encontrei com aquele bofe que você ficou uns dois anos atrás, meu bem...
- Dois anos atrás? Você não espera que eu lembre dele, né?
- Menina, aquele que eu vivia dizendo a você que era super sem graça. Claro que você lembra.
- O Vinícius? Deve ser o Vinícius. Acho que foi o único dos meus namorados que você não disse que invejava...
- Menina, é ele mesmo. Querida, o bofe está um escândalo. Procura o caderninho de telefone. Urgente ligar pro bofe, meu bem!
- Ah, não, Val. Não tou com clima prá ligar prá ninguém, não. Ainda mais prá um cara que eu não falo há dois anos. Cê tá maluca?
- Clima? Meu bem, deixe o clima para quem entende de clima. Estou indo aí lhe aprontar prá sair comigo.
- Não, Val... não vem não. Eu não vou sair. Já tou avisando, hein?
- Você o que? Claro que você vai sair, querida. Ou eu não me chamo Valentina Dietrich.
- Val...
- Oi?
- Você não se chama Valentina Dietrich.
- Não adianta querer jogar essas coisas na cara, meu bem. Chego aí em meia hora, ok?

Valentina era assim. Impulsiva. Se ela resolveu que Titina iria encontrar Vinícius, não sossegaria até conseguir. Por que raios eu liguei prá ela, mesmo?, ela nem me deixou falar. Ah, mas, eu não vou sair. E dirigiu-se à máquina de escrever, novamente. Olhava para o papel enquanto esperava que algo surgisse. Bem que eu poderia ser médium. Psicografar deve ser bem mais fácil que escrever. E você ainda pode jogar a culpa em cima dos outros. Um sorrisinho escapou.

"A porta do banheiro abriu de repente e ela borrou o batom. Não entendia o motivo do susto. Já o esperava. E não parecia estar disposto a perder tempo. A abraçou por trás e, com a mão por baixo da saia começou a tirar a calcinha. Não queria que fosse assim. Queria querer resistir. Ao contrário, o ajudava. Tentou virar de frente para ele, mas, foi detida. Foi hábil com as mãos e lhe abriu o cinto e o botão da calça praticamente juntos. Queria tirar a cueca, junto. Ele lhe fastou a mão e colou o seu quadril de encontro ao dela. Ele comandava. Ela sabia. Espremida entre a pia do banheiro do aeroporto e o corpo dele, tinha poucas opções. Deixava-se comandar.
"A mão esquerda dele a pegou pelos cabelos, na altura da nuca. Inicialmente aquilo parecia ser um carinho. Depois ficou mais vigoroso e, por pouco, não começou a doer. Quis reclamar, mas, a mão direita chegou em sua boca naquele momento. A ânsia de falar permutou-se, imediatamente, numa vontade louca de chupar-lhe os dedos. Lambia cada centímetro dos dedos que ele lhe oferecia. Sentia todas as falanges em sua boca com um prazer indescritível. Quanto mais a puxava pelos cabelos com mais vontade lhe lambia os dedos.
"Tentou, uma vez mais, virar-se. Ele a apertou contra a pia. Segurou sua mão e colocou sobre a coxa. Ela enfiou-lhe as unhas. Sentiu que a mão em seu cabelo puxava com mais força. Agora, percebia que praticamente a obrigava a olhar para o espelho. E começou a olhar. Ele a olhava, através do espelho, impassível. Como se nada lhe estivesse acontecendo. Ela com o gozo no olhar. Começou a passar a mão sobre a coxa que ele lhe ofereceu. Subia e descia e alcançava-lhe a bunda. Agora ele não lhe oferecia resistência. A expressão continuava inalterada.
"Sentiu que a mão livre dele lhe acariciava os seios. Era firme. Mas, o menos agressivo de todos os 'carinhos' que recebeu até o momento. Estava quase explodindo de prazer. E o sentia ainda mais cada vez que sentia o quadril dele a forçando contra a pia e quando olhava para o seu rosto, pelo espelho. A expressão em seu rosto implorava para que ele a tomasse. Com urgência. E a levasse embora dali. E se sentia levada.
"Quando o sentiu dentro de si, agarrou-o com as duas mãos, pela bunda, e o trouxe mais para perto de si. E outra vez mais.
"Ele a soltou. Consummatum est, gritava o banheiro. A pia, a torneira, as privadas, todas em côro. Consummatum est.
"Vestiu-se, rapidamente. Saiu sem olhar para trás.
"Ela o acompanhou até o fim. Lágrimas caíram, manchando seu rosto de preto. O batom estava, agora, ainda mais borrado. Não tinha mais forças. Deixou-se cair."
Titina Lisboa

- Meu bem, com quem é que você anda trepando, hein?
Valentina. Tinha acabado de colocar a assinatura no conto quando ela chegou e falou sem preocupar-se em não assustar a outra.
- Val... você quer me matar? Como foi que você entrou?
- Ora, a porta lá embaixo estava aberta. A daqui de cima, também. Você concentrada, escrevendo. Preferi ficar aqui, caladinha, até você terminar. Mas, não mude de assunto. Com quem você anda trepando?
- Eu não ando "trepando" com ninguém, tá?
- Sei... me engana, Titina... me engana.

Titina conhecia Val desde que ela se chamava Arthur. Elas não tinham segredos. Era lógico que, se estivesse com alguém, Val seria a primeira pessoa a saber.

- Ok, Titina Lisboa. Depois a gente conversa sobre isso. Agora, a senhora vai mudar de roupa e nós vamos para a noite
(Continua...)