segunda-feira, 27 de agosto de 2007

A Noite

A noite já se aproxima da metade e você ainda não pregou o olho. São duas e dezesseis da madrugada e tudo o que você quer é uma banda que toque, com você, cover dos Secos e Molhados. Nem precisa se vestir igual ao Ney Matogrosso. Mas, nem cantar você canta. E daí? Você quer cantar. Isso é sintomático, podem dizer de você. É. Pode. Mas, sintoma do quê? Sei lá. Sintoma de que você quer dar vazão a um chamado para a arte que grita no seu inconsciente com força ou, simplesmente, que a hora de dormir já passou, e muito, e tá mais que em tempo de sair da frente do computador e cair nos braços de Morfeu. Acontece que essa última hipótese é tão besta que você a deixa de lado.

Não. É a arte. A arte que pulsa em suas artérias é a que não lhe deixa dormir! E você começa, até, a preparar o set-listing da sua apresentação. Claro que não pode faltar Rosa de Hiroshima. Mas, começaria com ela? Não, não. Melhor seria começar com Flores Astrais afinal, a noite em que você não dorme, é de lua cheia. Estou certo que, nela, há vermes passeando. Depois viria Fala e Mulher Barriguda. Talvez você queira colocar uma ou outra músicas dos Mutantes. E aí você precisaria de um vocal feminino para fazer a voz de Rita Lee em "O Seu Refrigerador Não Funciona"! Mas, ficaria ótimo. Decidido. Procurar um vocal feminino para a sua banda cover.

Não. É o sono. O sono que já entorpece o seu cérebro com os hormônios lançados em sua corrente sangüínea e que, mesmo que você não saiba quais são ele, sente-os agir. Sente que eles fazem suas palpebras ficarem mais pesadas e seu cérebro diminuir a atividade. Muito menos glamouroso (perdoem-me os dicionaristas, mas, eu não consigo que uma palavra que se escreve "glamorosa" esteja por aqui. Escrita dessa forma ela perde todo o glamour), muito mais provável. E, se você não entende nada de hormônios ou de ação deles no cérebro ou de glamour, você não consegue entender por que raios está pensando isso. E conclui que só pode ser o sono, sim!

Muito bem. Chega a hora de se render. Levantar da cadeira, desligar o computador e ir dormir. Amanhã o dia é tão longo e você não gostaria de ter que enfrentá-lo. Gostaria de, simplesmente, ficar em casa. Mas, não pode. Tem que sair e estudar e trabalhar e encontrar amigos e nem tão amigos e uma série de outras obrigações e (até) divertimentos. Você nem entende mais porque ainda está aqui e acredita que só pode ser porque gosta, nem que seja um pouquinho, de quem escreveu. E o ordinário ainda pensa que é alguma coisa - risadas, muitas risadas - você poderia apostar que ele está escrevendo tudo o que vem à mente, sem nenhum critério, sem nenhuma ordem de escolher isso ou aquilo. Ele está jogando. Claro que está.

Se ele fosse você, apostaria que é isso mesmo. Mas, o calhorda desistiu de fazer você esperar que isso chegue em algum lugar, porque, como você mesmo já percebeu, não vai. Então, ele resolve parar por aqui mesmo. E lhe dizer que espera que você volte por aqui mais vezes, mesmo que para se deparar com algo que não vá gostar. Ele manda lhe dizer que é isso mesmo. Que nem sempre encontraremos o que gostamos (ou gostaremos do que encontramos). Enfim, ele está encantado com a sua visita e lhe deseja uma boatraçonoite e que você volte sempre poiserá muito bemtraçovindo!