quinta-feira, 5 de março de 2009

Mensagem à Arquidiocese de Olinda e Recife

Eu sou um ninguém. E, ainda assim, certas coisas me deixam indignados. Em algumas, eu me calo. Por me sentir impotente, por acomodação, por medo. Por uma infinidade de razões. Quando o nome de um Deus é usado para justificar barbaridades, eu gostaria de ficar menos calado. E, hoje, mesmo não sendo parte do espírito desse blog, eu não ficarei. Esse post é um tributo a todos aqueles que sofrem em suas religiões. Quem ensina que Deus é amor e misericórdia, não deveria abrir a boca para recriminar ou descriminar. Mesmo acreditando que nunca, nos anos em que estive na Igreja, recriminei ou descriminei, peço desculpas a todos os que, porventura, venham a agir assim por causa de palavras ou gestos ou atos meus, nesse passado. É muito pouco. Mas não gosto nem de lembrar que essa Instituição a que eu tanto amei e a quem dei tanto de mim, faça tanto mal a pessoas que só querem viver.

[b]Mensagem enviada à Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Olinda e Recife[/b]

Infelizmente, não sei para quem enviar essa mensagem. 
Infelizmente, não sei se as pessoas que deveriam, lerão essa mensagem. Escrevo para a PASCOM porque, como responsável pela comunicação na arquidiocese, vocês devem ler e, talvez, responder.

Fiquei chocado com o alarde feito pela Arquidiocese de Olinda e Recife com relação ao caso de uma criança que precisou se submeter a uma prática abortiva para garantir a segurança de sua própria vida. O pior é que a Arquidiocese trata a criança e seus pais como se fossem criminosos, esquecendo a brutal realidade a que foi submetida essa família.

As atitudes da Arquidiocese são extremamente incoerentes com vários elementos que deveriam defender. Não foi Jesus quem disse que se deve dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César? Por que a Igreja tentaria impedir que o aborto fosse realizado, se ele estava previsto no que reza a legislação vigente no Brasil? Não seria preciso aprová-lo. Ao contrário, o Sr. Arcebispo poderia falar contra em todas as suas cartas pastorais, em todas as reuniões do clero, em todas as suas homilias. Mas recorrer ao Ministério Público para impedir que ele acontecesse deveria ser algo a não passar, nem de longe, pelas cabeças dessa arquidiocese. A Igreja não pode pensar que pode resolver o que todos devem fazer. Ela deve falar sim, orientar. E deixar que nós, seres humanos, ápice da criação divina e dotados de livre arbítrio, decidíssimos seguir suas orientações ou não.

Se vocês estiverem certos, os que resolverem não seguir os preceitos da Igreja serão condenados ao inferno. A eternidade já não é castigo suficiente para que a Igreja queira condená-los aqui na terra também?

A arquidiocese de Olinda e Recife se prepara para celebrar o centenário de nascimento de D. Hélder, um santo. A frase dele que estampa a página inicial desse site deveria inspira-los um pouco mais. "Os homens gastam-se tanto em palavras que não conseguem entender o silêncio de Deus". Façam como D. Hélder, que tanto se preocupou com dos milhares de "Jesus" na pele dos irmãos que sofrem.

Façam chegar ao Sr. Arcebispo o pedido para que ele não suje a cadeira arquiepiscopal onde sentou o santo Hélder Câmara. Deixem essa criança e a sua família curarem o seu sofrimento em paz!