segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Will

Quando eu morrer, não me enterrem. Queimem meu corpo. Levem minhas cinzas por todas as partes. Joguem-nas ao vento. Joguem-nas ao mar. Façam-nas chegar em Buenos Aires. Mar del Sur, aos pés da Virgencita. Não condenem à prisão este corpo que tanto se priva de movimento.

sábado, 22 de agosto de 2009

Pô... eu queria te pedir desculpas. Sabe o que é? Eu ainda não em acostumei a ver você com ele. É estranho. Já faz tempo... sei lá... dezembro, acho. Eu poderia nunca mais voltar. Encontrar aquela companhia de teatro, lembra?, e ficar lá. Você brincava com isso. E esqueceu o cigarro dentro do carro. Eu vi e não achei que fossem seus. Hoje, sabendo o que viria pela frente, não teria avisado de qualquer maneira. Os teria guardado comigo. Agora, o carinho disfarçado em soquinhos, o tesão, a violência, o sexo, o piercing no nariz (quem te deu a idéia de colocá-lo?)... tudo... pô... é tudo dele. Cê me entende? Nem precisa. O problema é que você era a relação perfeita. Não tínhamos uma relação propriamente? Ok. Quase perfeita. But... I choose no face to look at, I just happen to be here, and that's ok. Isso não impede que meus olhos go looking for flying saucers in the sky. Acho que é por isso que ainda não me acostumei. Ainda vejo flying saucers onde não há nada. C'est la vie. Os cães ladram e a caravana passa.

Passemos bem.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

What's up, doc?


Como você está? Mal, respondo sem olhar para o médico. Então, sua médica sugeriu uma licença de quinze dias. Como você começou a se sentir assim? Não sei, ainda sem o olhar. Veja bem, as doenças do psiquismo se manifestam por algumas razões. Ninguém está bom em um momento e, no outro, passa para o outro lado. Levanto a vista pela primeira vez. Mordisco a cenoura que seguro na mão direita e com a esquerda acaricio a orelha de coelho de pelúcia que prendi à testa. O que o senhor espera que eu diga? "What's up, doc?". Salto sobre a mesa e me aproximo da cara sebenta. Coloco meus olhos bem próximos às lentes engorduradas dos seus óculos. De perto, doc, ninguém é normal. Se levarmos em conta que eu não saí do meu lugar, quando o senhor passou para o outro lado, doc? Caminho lentamente de volta até à cadeira onde estava sentado. Novo salto e estou onde, aparentemente, sempre estive. Ofereço-lhe um pedaço da minha cenoura. Ele não quer. Perde o respeito que eu ainda lhe nutria.

Está aqui a sua licença. Coloque o seu sono em dia.

Colocarei, doc... colocarei.