segunda-feira, 28 de abril de 2008

Onde Estão os Causos?

Entrei no táxi na última quinta. Não tinha nenhum saco para a viagem que ia fazer. Se soubesse que demoraria quase duas horas, nem teria começado. Tinha que trabalhar do outro lado da cidade. Não havia escolha. A cidade estava mais engarrafada que o normal para aquela hora. A chuva do dia anterior ainda era sensível. O calor do motor do carro nas minhas pernas faziam a paciência minguar um pouco mais a cada grau celsio de temperatura aumentada.

Não sei em que momento, exatamente, o motorista passou a falar umas coisas estranhas. Já tinha falado sobre a família. Sobre os filhos. Tinha três, ou eram quatro?, e nunca teve desgosto com nenhum deles. Ao contrário de um irmão de criação que tinha uma filha envolvida com drogas, coitado. Mas, ele não teve pulso. Deixou que ela fizesse tudo o que queria.

Foi aí. Definitivamente, aí, que entrou um lobisomem. Não. Não foi no carro. Eu não estou louco, ainda. Na história. A mãe do motorista conheceu um. Lobisomem de verdade. Um bicho muito feio. Com dois palmos de orelha e dentes enormes. O homem era muito pálido. Possivelmente, vomitava muito durante as transformações. Foi descoberto pela mulher, certo dia, quando, ao acordar, percebeu que ele tinha um pedaço de sua saia entre os dentes.

Na noite anterior, andando pela cidade, ela percebeu uma movimentação estranha. Tentou fugir, mas, o bicho a cercou. Na hora decisiva, um salto a salvou. Afinal, os lobisomens não atacam no alto. Só dão ataques rasteiros. Mas, ele levou um pedaço de sua saia com os dentes. O mesmo pedaço que o denunciaria no dia seguinte.

Por que não existem mais lobisomens, hoje em dia? Nada mais simples: as pessoas não conhecem as palavras. Porque se alguém conhecer, se deita no lugar onde um animal dormiu, pronuncia as palavras e pronto. Lobisomem! (O que descaracteriza a velha crença popular de que "homem com homem" é o responsável pelo monstro orelhudo. Nesse caso, "mulher com mulher" também não deve dar jacaré!).

A viagem se tornou mais leve. E a história da mula sem cabeça nem tinha começado ainda. Produzir uma mula sem cabeça é ainda mais fácil. Basta a mulher se "casar" com um padre. Embora ele achasse que o próprio padre era a mula. Mesmo depois que eu disse que a mulher do dito cujo sofria a metamorfose.

Mas, o problema ainda são as palavras. Ninguém mais sabe as palavras.

Que saudade de tempos não vividos me bateu agora. Tempos em que monstros não jogavam criancinhas das janelas de seus apartamentos! Pela volta, urgente, dos lobisomens, aqueles que souberem as palavras, pronunciem-nas!

Ouvindo:

Austin TV (http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendID=6217630)

Passeando pelos canais de TV, acabei indo parar na CNN en Español. Era um programa que falava sobre música, cinema, teatro e artes em geral. A apresentadora chama, então, uma banda independente, mexicana, que estaria tocando em Nova York por esses dias. Os três cidadãos (uma mulher e dois homens) aparecem sentados e com máscaras no rosto. As máscaras parecem algo como um monte de folhas costuradas umas nas outras. Eu fiquei pensando o que seria aquilo. Eles começam a falar sobre a música deles. Instrumental. E, por isso, eles usam as máscaras. Por isso, e porque a essência é mais importante do que o seu rosto diz sobre você, segundo um dos componentes da banda.

Apesar de aparecerem 5, na foto, eles são só 3!


Graças à internet, consegui encontrá-los bem facilmente. E divido-os com vocês. O mais novo cd da banda é um diário. As músicas são como que a trilha sonora para as histórias do diário. Se chama Fontana Bella e custa 120 pesos (não tenho a menor idéia de quanto custa isso em reais) mais despesas de envio. Se alguém quiser me dar, à vontade.

Abraços!

Atualização: De acordo com o site do Banco Central, com câmbio de sexta-feira (25/04), o cd sai por R$ 19,14. Agora, eu só tenho medo do frete!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Não há contos de fadas!

Não tenho a menor pretensão, que seja, de cronista policial. Nem acho que teria talento para tanto, embora seja fã de literatura policial. Mas, tenho sido provocado a escrever sobre caso de polícia há quase um mês. Sobre um caso de polícia, especificamente. Aquele que temos sido obrigados a ver e ouvir todos os dias desde o fim de março: Isabella Nardonni.

Tenho lido bastante sobre o caso, obviamente, como todos. Esse daqui é o que mais me diz respeito, por ter sido escrito por alguém próximo. Prometi-lhe um comentário e, nada melhor que esse aqui.

O crime é bárbaro? Sem dúvida. Uma criança que é asfixiada e atirada da janela de um apartamento do sexto andar de um prédio não deveria ser concebível por nós. Simplesmente pelo absurdo que tal caso traz com ele. Já que ocorreu, um homicídio, triplamente qualificado (impossibilidade de defesa da vítima, motivo torpe e cruel) não pode ser, definitivamente, um ato comum.

Mas, eu não estou aqui para culpar ninguém. Gostaria de nem pensar em quem foi o assassino, para não cometer injustiças (embora a minha "injustiça" não vá afetar ninguém). Não é o caso. Eu penso sobre o caso, sim. E tenho uma opinião bem formada sobre o caso.

O fato de que nos deixamos comover e abalar por coisas que não nos afeta diretamente é preocupante. Não falarei sobre isso, já que o link acima já traz texto sobre isso. Concordo plenamente com ele.

Outra coisa me preocupa mais: Ana Carolina Jatobá e Alexandre Nardonni estão, desde o dia seguinte ao crime, indiciados, julgados e punidos. Isso é totalmente prejudicial. Ninguém leva em consideração que eles podem ser inocentes, como alegam. E, se for assim, havia mais alguém no apartamento. E esse alguém vai passar despercebido. Ficará solto e, quem sabe, poderá voltar a matar uma criança. Só vi uma pessoa defendendo que a polícia deve trabalhar com o improvável: Ilana Casoy.

A polícia está trabalhando com essa possibilidade? Espero que sim. O povo está? Eu já ouvi uma reconstituição completa do que teria acontecido, incluindo um acidente envolvendo Isabella, que seguraria no colo o irmão menor e o teria deixado cair, provocando a ira da madrasta que teria começado a espancá-la. Duvido que alguém tenha ouvido uma versão do crime onde a criança teria acordado enquanto o pai voltava à garagem para apanhar os outros filhos, teria flagrado alguém que poderia ter reconhecido, posteriormente, e esse alguém, para se livrar do perigo, a teria assassinado.

Fato é que julgamos o que não conhecemos. Decidimos o que não estamos aptos a decidir. E isso pode prejudicar a vida de pessoas que são inocentes. Fico me perguntando: se fosse eu, o acusado, minha mãe e minha irmã estariam defendendo a versão que a população comprou? Talvez, um dia, eu possa precisar que a justiça, a polícia e a opinião pública sejam neutras em relação a mim. Talvez, um dia, você também precise!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Manifesto pelo fim das informaçõe inúteis.


Exatamente. Isso é a estrutura química do teflon. Aquele que está no fundo da frigideira que você insiste em raspar com qualquer garfo ou faca que pegar ou, ainda, (crime, meu deus) esfrega com bombril na hora de lavar. Na verdade, o nome Teflon é marca registrada que identifica um polímero, o politetrafluoretileno. A fórmula química do monômero, o tetrafluoretileno, é CF2=CF2, e o polímero -(CF2-CF2)n-

O Teflon tem uma baixíssima capacidade de reatividade, tem, portanto, um potencial de toxicidade praticamente nulo. Além disso é o material com menor coeficiente de atrito que se conhece. Por isso, o bombril é totalmente dispensável para lavar a sua frigideira. Isso vai garantir a maior durabilidade da mesma!

Agora, a pergunta, caros leitores: Quantos de vocês teriam dormido sem tão pertinente explicação sobre as propriedades químicas do politetrafluoretileno?

Eu, fatalmente, teria dormido com os anjinhos, como já diria um amigo deutero-rio-grandense, sem ter escrito isso.

Nós somos bombardeados, todos os dias, por milhares de informações. Umas nos são imprescindíveis. Outras, absolutamente descartáveis. Por que as últimas têm que chegar ao nosso conhecimento? Não poderíamos ser poupados delas?

Pois muito bem. Eu quero ter o direito de nem precisar me preocupar em filtrar o que é importante e o que não é. Quero encontrar, facilmente, questões ligadas à concepção de linguagem de Scheicher. E não quero que me digam que o que diabos é um polímero.

Por que isso tudo?

"Qual o seu e-mail"
"Eu tenho dois"
"Me dá um"
"É que o da Yahoo eu uso mais, então, acho que é melhor lhe dar ele"
"..."

Por que, joder, os indivíduos não dizem simplesmente: "fulanodetal@yahoo.com.br". Eu não quero saber quantas contas de e-mail você tem. Nem, muito menos, qual delas você usa mais!

Pelo fim das informações inúteis!
Unidos somos mais!