Cena 1 - RUA MOVIMENTADA – EXT/DIA
Cristiana caminha pela calçada de uma rua movimentada. Tem uma expressão preocupada, mas, de vez em quando, dá um sorriso. Ouvem-se os barulhos do trânsito e de pessoas que passam ao lado dela.
CRISTIANA
(off)
Preciso lhe dizer, Francisco: que, quando você aprender o que é pai, vai ter que aprender o que é morte; que a morte é a única certeza da vida, embora a gente passe a vida inteira fingindo que ela não existe; que às vezes a vida inteira pode durar apenas 38 anos; que o mais importante é ter vivido 38 anos muito bem vividos.
Entra em uma farmácia
Cena 2 – FARMÁCIA – INT/DIA
Cristiana dirige-se a um atendente no balcão. Enquanto fala com o atendente e enquanto aguarda, bate com os dedos no vidro do balcão.
CRISTIANA
Oi, você pode me dar um teste de gravidez, por favor?
O atendente sai de cena e volta com o teste e o entrega a Cristiana.
CRISTIANA
Obrigada.
Cena 3 – RUA MOVIMENTADA – EXT/DIA
Cristiana caminha pela mesma rua da primeira cena, na direção contrária. Ouvem-se os barulhos do trânsito e de pessoas que passam ao lado
CRISTIANA
(off)
Preciso lhe dizer, Francisco: que a vida não é sempre alegre ou triste: existe alegria na tristeza, tristeza na alegria.
Cena 4 – CASA DE CRISTIANA – INT/DIA
Cristiana segura o teste de gravidez enquanto espera impaciente. Olha o relógio de pulso. Balança o teste no ar e para de repente.
CRISTIANA
Ai, não pode fazer isso.
O teste vai ficando azul e Cristiana não consegue se conter de felicidade. Começa a gritar e pular. Pega o telefone e o joga em cima do sofá pouco depois. Chora, emocionada e ainda sorrindo. Os sons da casa continuam sendo ouvidos enquanto Cristiana fala em off.
CRISTIANA
(off)
Preciso lhe dizer, Francisco: que quando o teste de gravidez deu positivo, antes de parar pra pensar, eu sorri; que depois de parar pra pensar eu continuei sorrindo; que eu continuo sorrindo até hoje; que você me fez querer brincar de novo.
Cena 4 – TELA PRETA
Não há nenhum ruído. Somente se ouve a voz de Cristiana.
CRISTIANA
(off)
Preciso lhe dizer, Francisco: que você fez o seu pai voltar a ter planos; que ele tinha adiado as férias para quando você nascesse; que eu não poderia ter escolhido alguém melhor com quem ter um filho – e ele me dizia a mesma coisa; que eu sempre tive medo de o seu pai morrer; que é horrível ver acontecer justamente aquilo que a gente teme.
Ouve-se um choro de um bebê com cerca de 6 meses e a tela fica branca.
CRISTIANA
(off)
Preciso lhe dizer, Francisco: que você salvou a minha vida.