sexta-feira, 8 de junho de 2007

SEM NOME II

"Eram duas horas da madrugada e ela levantou-se. Bebeu um copo d'água, dirigiu-se à varanda e, de lá, observava os poucos carros que passavam. Tentava descobrir de onde eles vinham e para onde eles iriam. Por que essas pessoas estariam acordadas e fora de casa, agora? Bom, eu também estou acordada, pensou, mas, é diferente..."
Quem escreveria algo tão ruim, reclamou Titina, enquanto amassava a folha que tirara da máquina de escrever. Nunca tive uma crise desse tamanho... o que é isso? Desde o começo desse ano eu sempre escrevi sobre tudo o que quis. Todas as manhãs. E agora não sai nada? Não é possível. Só pode ser coisa daquele filho da mãe. Urucubaca das grandes. Ela elogiava tanto o que eu escrevia. Agora não quer mais que eu escreva. Só pode.
Enquanto pensava, Titina levantou da cadeira para procurar algo para comer. Os pés doeram quando pisou o chão frio. Abriu a geladeira e desistiu de comer. Foi ao escorredor de louça, pegou uma xícara e preparou um café ("bem forte, para não dormir antes de escrever algo"). Foi ao quarto e deixou a água no fogo. Calçou meias e pegou o telefone.
- Val, Titina...
- Oi, meu amor. Estava precisando mesmo falar com você. Meu bem... encontrei com aquele bofe que você ficou uns dois anos atrás, meu bem...
- Dois anos atrás? Você não espera que eu lembre dele, né?
- Menina, aquele que eu vivia dizendo a você que era super sem graça. Claro que você lembra.
- O Vinícius? Deve ser o Vinícius. Acho que foi o único dos meus namorados que você não disse que invejava...
- Menina, é ele mesmo. Querida, o bofe está um escândalo. Procura o caderninho de telefone. Urgente ligar pro bofe, meu bem!
- Ah, não, Val. Não tou com clima prá ligar prá ninguém, não. Ainda mais prá um cara que eu não falo há dois anos. Cê tá maluca?
- Clima? Meu bem, deixe o clima para quem entende de clima. Estou indo aí lhe aprontar prá sair comigo.
- Não, Val... não vem não. Eu não vou sair. Já tou avisando, hein?
- Você o que? Claro que você vai sair, querida. Ou eu não me chamo Valentina Dietrich.
- Val...
- Oi?
- Você não se chama Valentina Dietrich.
- Não adianta querer jogar essas coisas na cara, meu bem. Chego aí em meia hora, ok?

Valentina era assim. Impulsiva. Se ela resolveu que Titina iria encontrar Vinícius, não sossegaria até conseguir. Por que raios eu liguei prá ela, mesmo?, ela nem me deixou falar. Ah, mas, eu não vou sair. E dirigiu-se à máquina de escrever, novamente. Olhava para o papel enquanto esperava que algo surgisse. Bem que eu poderia ser médium. Psicografar deve ser bem mais fácil que escrever. E você ainda pode jogar a culpa em cima dos outros. Um sorrisinho escapou.

"A porta do banheiro abriu de repente e ela borrou o batom. Não entendia o motivo do susto. Já o esperava. E não parecia estar disposto a perder tempo. A abraçou por trás e, com a mão por baixo da saia começou a tirar a calcinha. Não queria que fosse assim. Queria querer resistir. Ao contrário, o ajudava. Tentou virar de frente para ele, mas, foi detida. Foi hábil com as mãos e lhe abriu o cinto e o botão da calça praticamente juntos. Queria tirar a cueca, junto. Ele lhe fastou a mão e colou o seu quadril de encontro ao dela. Ele comandava. Ela sabia. Espremida entre a pia do banheiro do aeroporto e o corpo dele, tinha poucas opções. Deixava-se comandar.
"A mão esquerda dele a pegou pelos cabelos, na altura da nuca. Inicialmente aquilo parecia ser um carinho. Depois ficou mais vigoroso e, por pouco, não começou a doer. Quis reclamar, mas, a mão direita chegou em sua boca naquele momento. A ânsia de falar permutou-se, imediatamente, numa vontade louca de chupar-lhe os dedos. Lambia cada centímetro dos dedos que ele lhe oferecia. Sentia todas as falanges em sua boca com um prazer indescritível. Quanto mais a puxava pelos cabelos com mais vontade lhe lambia os dedos.
"Tentou, uma vez mais, virar-se. Ele a apertou contra a pia. Segurou sua mão e colocou sobre a coxa. Ela enfiou-lhe as unhas. Sentiu que a mão em seu cabelo puxava com mais força. Agora, percebia que praticamente a obrigava a olhar para o espelho. E começou a olhar. Ele a olhava, através do espelho, impassível. Como se nada lhe estivesse acontecendo. Ela com o gozo no olhar. Começou a passar a mão sobre a coxa que ele lhe ofereceu. Subia e descia e alcançava-lhe a bunda. Agora ele não lhe oferecia resistência. A expressão continuava inalterada.
"Sentiu que a mão livre dele lhe acariciava os seios. Era firme. Mas, o menos agressivo de todos os 'carinhos' que recebeu até o momento. Estava quase explodindo de prazer. E o sentia ainda mais cada vez que sentia o quadril dele a forçando contra a pia e quando olhava para o seu rosto, pelo espelho. A expressão em seu rosto implorava para que ele a tomasse. Com urgência. E a levasse embora dali. E se sentia levada.
"Quando o sentiu dentro de si, agarrou-o com as duas mãos, pela bunda, e o trouxe mais para perto de si. E outra vez mais.
"Ele a soltou. Consummatum est, gritava o banheiro. A pia, a torneira, as privadas, todas em côro. Consummatum est.
"Vestiu-se, rapidamente. Saiu sem olhar para trás.
"Ela o acompanhou até o fim. Lágrimas caíram, manchando seu rosto de preto. O batom estava, agora, ainda mais borrado. Não tinha mais forças. Deixou-se cair."
Titina Lisboa

- Meu bem, com quem é que você anda trepando, hein?
Valentina. Tinha acabado de colocar a assinatura no conto quando ela chegou e falou sem preocupar-se em não assustar a outra.
- Val... você quer me matar? Como foi que você entrou?
- Ora, a porta lá embaixo estava aberta. A daqui de cima, também. Você concentrada, escrevendo. Preferi ficar aqui, caladinha, até você terminar. Mas, não mude de assunto. Com quem você anda trepando?
- Eu não ando "trepando" com ninguém, tá?
- Sei... me engana, Titina... me engana.

Titina conhecia Val desde que ela se chamava Arthur. Elas não tinham segredos. Era lógico que, se estivesse com alguém, Val seria a primeira pessoa a saber.

- Ok, Titina Lisboa. Depois a gente conversa sobre isso. Agora, a senhora vai mudar de roupa e nós vamos para a noite
(Continua...)

4 comentários:

Anônimo disse...

Minha nossa! Está exalando sensualidade aqui por todos os lados...
Altamente inspirador,como sempre.
Infelizmente onde moro não tem aeroporto. Que pena !

Anônimo disse...

Mas que imaginação fértil...

Adoro vir aqui ler os seus textos.
É satisfação garantida.

Unknown disse...

Adorei, como sempre!!! Quero logo ver a continuação...

Amo tu, tanto...

Cecilia Lec. disse...

UAU!