Entrei no táxi na última quinta. Não tinha nenhum saco para a viagem que ia fazer. Se soubesse que demoraria quase duas horas, nem teria começado. Tinha que trabalhar do outro lado da cidade. Não havia escolha. A cidade estava mais engarrafada que o normal para aquela hora. A chuva do dia anterior ainda era sensível. O calor do motor do carro nas minhas pernas faziam a paciência minguar um pouco mais a cada grau celsio de temperatura aumentada.
Não sei em que momento, exatamente, o motorista passou a falar umas coisas estranhas. Já tinha falado sobre a família. Sobre os filhos. Tinha três, ou eram quatro?, e nunca teve desgosto com nenhum deles. Ao contrário de um irmão de criação que tinha uma filha envolvida com drogas, coitado. Mas, ele não teve pulso. Deixou que ela fizesse tudo o que queria.
Foi aí. Definitivamente, aí, que entrou um lobisomem. Não. Não foi no carro. Eu não estou louco, ainda. Na história. A mãe do motorista conheceu um. Lobisomem de verdade. Um bicho muito feio. Com dois palmos de orelha e dentes enormes. O homem era muito pálido. Possivelmente, vomitava muito durante as transformações. Foi descoberto pela mulher, certo dia, quando, ao acordar, percebeu que ele tinha um pedaço de sua saia entre os dentes.
Na noite anterior, andando pela cidade, ela percebeu uma movimentação estranha. Tentou fugir, mas, o bicho a cercou. Na hora decisiva, um salto a salvou. Afinal, os lobisomens não atacam no alto. Só dão ataques rasteiros. Mas, ele levou um pedaço de sua saia com os dentes. O mesmo pedaço que o denunciaria no dia seguinte.
Por que não existem mais lobisomens, hoje em dia? Nada mais simples: as pessoas não conhecem as palavras. Porque se alguém conhecer, se deita no lugar onde um animal dormiu, pronuncia as palavras e pronto. Lobisomem! (O que descaracteriza a velha crença popular de que "homem com homem" é o responsável pelo monstro orelhudo. Nesse caso, "mulher com mulher" também não deve dar jacaré!).
A viagem se tornou mais leve. E a história da mula sem cabeça nem tinha começado ainda. Produzir uma mula sem cabeça é ainda mais fácil. Basta a mulher se "casar" com um padre. Embora ele achasse que o próprio padre era a mula. Mesmo depois que eu disse que a mulher do dito cujo sofria a metamorfose.
Mas, o problema ainda são as palavras. Ninguém mais sabe as palavras.
Que saudade de tempos não vividos me bateu agora. Tempos em que monstros não jogavam criancinhas das janelas de seus apartamentos! Pela volta, urgente, dos lobisomens, aqueles que souberem as palavras, pronunciem-nas!
segunda-feira, 28 de abril de 2008
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25 comentários:
Nossa...que texto forte, aliás, que reflexão forte escondida em PALAVRAS que não foram ditas. Amei seu jeito de escrever, tá lá no meu blog já, favoritoo...adorei.
As palavras...
Vou ler mais uma vez pra tentar decifrar de quais vc fala...
Fora isso... Adorei... Garanto que a viagem se tornou muito mais agradável com a história do lobisomem!
Queria ter feito um comentário mais inteligente...
Mas isso foi tudo que saiu de minha cabeça...
;)
Quer ouvir histórias assim? Vá numa praça qualquer de uma cidade qualquer (pode ser da cidade que você mora) e converse com aqueles senhores de rugas na cara e chapéu cobrindo os experientes cabelos brancos.
Você vai se surpreender
Demais cara! tu escreve bem!!!
http://ateoriadoabsurdo.blogspot.com/
Ae mann, brigado aê, mas queria esclarecer algo... A questão não é nem os comentários com relação a quantidade, mas sim o conteúdo, porque adimito que sou bastante inseguro. Gosto de saber o lado das pessoas de verem as coisas, se concordam com minhas atitudes ou não, e outros... Acredito, então, que mais claras ficarão as coisas proporcinalmente a quantidade de opiniões que eu puder avaliar. Mas agradeço o incientivo. =)
www.myside.zip.net
Fique a vontade.
rs
bom, sei que "assoviou a caipora chegou" de resto não sei sobre chamados de outros monstros.
Sobre o fato deles serem lendas e os de hoje, por mais triste que seja, são reais; reais porém, anormais, é triste e deprimente ver casos como esse, que agora estão se tornando mais frequentes na sociedade. Faço psicologia e acho que nem precisa fazer psicologia para se ver como a sociedade está mentalmente adoecida.
adorei o seu blog, de verdade!
volto aqui mais vezes :)
Depois acham "estranho" aquela história que taxistas são parentes, próximos, de ets.
Depois acham "estranho" aquela história que taxistas são parentes, próximos, de ets.
Falo mais no MSN!
rsssssss
Fernandinho, meu amiguinho...
...acredite, lí 'tudim'...
...e, oh: TU ESCREVE BEM 'QUISÓ', VISSE!?
kkkkkkkkkkkk
Xeruz...
Cara, que história é essa de lobsomen. Gostei do taxista. Eles têm muitas histórias pra contar e você as conta bem.
otimo texto...
velhos tempos mesmo...
era mais fácil viver...
adorei o blog..
bjão
www.daniilopes.blogspot.com
Eu gostava de quando os lobisomens eram a única preocupação, porque as pessoas não faziam esse alarde todo em cima da carniça.
É claro, o caso da menina é chocante, foi horrível, mas nunca vio uma comoção tão absurda por conta das cinco crianças assassinadas a cada dois dias no brasil, ou das milhares de crianças que passam fome diariamente.
No orkut existem, neste mmento, 889comunidades de Luto e homenagem pela Isabela Nardoni. Seria muit interessante observar a reação das pessoas qeu estão enlutadas ao passar diante de uma criança de rua. Elas abririam a carteira pra comprar um lanche pro pobre inocente que nasceu na miséria ou desviariam, chamando de trombadinha, de viciado?
Lobisomens são mais toleráveis. Eles se tarnsformam só na Lua Cheia, reviram umas latas de lixo de madrugada e mordem se você estiver de bobeira na praça depois da meia-noite. Já o caso da Nardoni é 24h por ida, seja em casa, no trabalho ou até mesmo nos taxis.
Adorei teu blog.
Abraço!
www.prozaczone.blogspot.com
www.estressolandia.blogspot.com
Muito bom o texto cara...bem irônico no meu ponto de vista, no caso onde fala que "monstros jogavam crianças pela janela" concordo. E acrescento: "Crianças são atacadas por monstros todos os dias e nenhum caçador de monstros os caçam, só se lhe oferecerem um bom dinheiro"
É isso ai cara...muito bom o texto repito.
Se quiser pode dar uma lida no meu blog depois...abração meu caro.
eu não sou de brasilia não cara AkakAKKak
SO do rio...
Ah...
Bacana de mais sua expressão!!!!
Também tenho saudades do tempo em que os monstros seguiam regras. As criaturas das lendas sempre tinham uma fraquesa para o populares se defenderem delas, hj não temos mais lendas. As lendas se tornaram historias tolas de velhos, e os monstros que deveriam morrer com as lendas se mostram hj como humanos se escondendo atraz de historias tolas...
"Sad but True"
Resposta do Reverendo
Cara vc falou tudo!!!!
Parabens, estava triste com meu conto. Achei q foi mal escrito e um esperdicio de uma boa ideia, pois poucos entenderam. Mas vc e alguns poucos pegaram bem o espirito da coisa.
Muito Obrigado pelo seu comentario util e construtivo (infelizemente algo raro ultimamente)
E Parabens pela sua obra!!!!
Esse seu texto ficou muuito legal!!
Os parametros mudam e as pessoas nem reparam!
realmente adorei mesmo!
bjos
Bom texto!
Adorei seu blog!!
Passa lah no meu tb:
http://blogdapattyandrea.blogspot.com
Kamarada sera um prazer.
O seu blog ja esta linkado ao meu.
Até mais!!!
É pop isso aqui.
Muito legal!
Ok.
Ensine mesmo, é sempre bom aprender.
Abraço!
kkkkkkkkkkk
muito bom o texto!!!
=*****
Taty
Meu xefe!!! Ou melhor agora "ex" kkkk Melhor seria que nossos xefes fossem caiporas não é verdade? Eu passava o resto de minha vida chupando cana para não ter a desculpa de assoviar! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Vc sabe q são os xefes né?
E o texto é (como diria meu irmão) massa véio, maior viagem!!
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