domingo, 14 de janeiro de 2007

ALTER-NANDO LEITURAS

O texto que se segue não é meu. Ele é o primeiro dos que eu consegui que fossem reescritos por uma das pessoas que eu mais amo no mundo. Nos conhecemos desde sempre, embora só tenhamos descoberto isso em 1999. Há algum tempo atrás, eu disse que existem pessoas que sentam e escrevem. Sem fazer nenhum esforço para isso. Você lê e tem a nítida impressão que as palavras estiveram ali o tempo todo. Apenas esperando que você chegasse e as devorasse. A autora é uma dessas pessoas. Tudo o que ela escreve é absolutamente lindo. Por isso eu quis começar com ela. Por isso eu a intimei a reescrever "DESEJO". Não quero falar sobre o texto. Quero que vocês o leiam e falem sobre ele. Só quero acrescentar que, o e-mail em que ela me mandou o escrito, tinha o seguinte assunto: "oanmissimnao". O que não tem começo nem fim. Não tem lados. Não ter certo e errado.

Já chega de suspense.

Com a palavra, Juliana:

SIM E NÃO

Eu pedi que parasse! Porque aquele era o limiar entre ser e ser distinto. Porque o corpo fala mais do que o verbo, porque ele teria o poder de transmutar as formas e os conteúdos de tudo que havia sido construído até então.
Eu pedi que falasse a verdade e me dissesse se era justo que meu corpo fosse assim violado pelo seu desejo, que esta alma fosse ferida e violentada pelos arroubos de sua paixão momentânea, porque toda sua lógica ultrapassava minha capacidade de permanecer sã.
Eu pedi que parasse, que soltasse os braços do enlaço que me envolvia que largasse minha boca silenciosa presa entre seus dentes e lábios e língua, expiração, inspiração ofegante, o nó fazendo-se ao redor de nós.
Eu pedia, enquanto suas mãos me suspendiam as coxas molhadas, que as secasse e não com sua saliva, não com seus dedos firmes, não com as marcas que deixava quando me forçava contra a parede e me explorava os contornos.
Eu implorava... que não penetrasse meu corpo porque era a fronteira exata entre a razão e o não-temer e que nada mais se escutaria a partir dali e nada mais faria sentido além do seu corpo que se tornava meu e que eu dizia não querer mais.
Eu chorava e gemia e cantava todas as canções de Chico: mulher bandida, vendida pelo amor mais barato, entregue ao desejo mais raso, relutante com força alguma, fraca de juízo, fraca de si mesma, distante de ser aceita.
Puta, vendida, vagabunda! Como eu implorava para perder-me ali e não mais voltar! Porque sua língua dava voltas em minha boca e sua saliva tomava o gosto do corpo inteiro que sua boca percorrera. Eu descobria meu gosto que sua boca sorvia e me entregava. Eu bebia do meu corpo, meu suor, meu gozo, meu desejo, meu cheiro, seu cheiro, sua água, sua certeza, seu instinto, sua vontade, seu sal, sua insanidade e eu me esquecia quem era eu quem era aquele corpo quem era minhasua vida que conseqüências que medos que anseios que putaquepariu é assim que eu quero!

E então a respiração se acalma... Eu olhava seus olhos com os meus olhos fechados e lhe dizia de lábios cerrados que esse desejo não se explica e que ir tão longe não é correto mas que meu deus por que tanto desejo e as marcas vermelhas em sua pele e seus pêlos espalhados em meu corpo e todo aquele calor que fazia às cinco da tarde... nada daquilo era normal...
E eu sentia pelo peito que arfava e elevava minha mão lenta e pesadamente que o dia terminava com gosto confuso na boca e com o corpo cansado e dolorido de amar assim, por alguns minutos, uma pessoa inteira, em cada detalhe e cada curva como se a vida fosse acabar ali mesmo e, não: tudo deveria estar no lugar errado.
E eu perguntava como eu me permitira ser tão de outrem, como eu deixara que me furtassem de mim mesma, me assaltassem, arma em punho, espada, lança, arma branca, pele branca, brancos olhos que guardavam aquela cor que me olhava mais profundamente do que me penetrava e me tivesse levado toda a razão que eu levara anos para construir.
Eu pedi que parasse e me beijasse novamente a boca e me abraçasse com calma, que eu dormisse no sonho e não mais voltasse, porque acordar só faria sentido se pudesse voltar à mesma viagem.

5 comentários:

Luci disse...

Este entrelaçamento de texto ficou perfeito!! Desejo liberto.
Só os poetas (vocês) conseguem sentir desejos assim, tão envolventes e bonitos!
Enfim, dois encantadores das palavras!!

Aêêêê, Fê!!! Aêêêê, Ju!!

Já ansiosa esperando para as próximas parcerias!!!

bjos

FELICIDADEetrist... disse...

E eu que nem sabia disto aqui!!!
Se vc não me convida pra sua casa, como posso te visitar???
Agora eu posso, meu amorrrrrrrrrr!
Parabéns
e
saiba que voltarei mtas vezes!
Bjs!

Laís Flores disse...

pra eu não dizer que não passo aqui e barará... huhueuheuhe

Beijos pra ti, coiso!

Unknown disse...

Há coisas que não precisam ser comentadas, questionadas ou debatidas, simplismente devem ser apreciadas e antes de tudo sentidas. Esse, como os outros textos escritos por Ju e Fernando, são uma dessas coisas. Parabéns!

Adoro ter amigos poetas!

Unknown disse...

Lindo, lindo!!!
Que dupla do kct essa!!! Quero mais dobradinhas assim.
Texto envolvente, perfeito!! Daqueles que a gente não consegue deixar de ler até que acabe...
É daqueles textos que me lembram Monóico e Nosso Amor, bem a cara do Ruivo...
Beijo grande pra dois grandes poetas...
FerNandito, meu amado, amo tu de montão, visse?